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A Restauração de um livro antigo exige muito cuidado. Fora de um laboratório então… nem se fala! Sempre me considerei uma pessoa meticulosa, mas quando comecei a trabalhar com restauração, essa característica precisou ser aperfeiçoada ainda mais. Isso, porque o restauro envolve uma série de processos que não podem ser interrompidos nem tampouco antecipados. Lógico, tudo depende da situação em que livro chega nas minhas mãos.

Em meados do ano passado recebi um dos livros mais difíceis em que já trabalhei. Não pelo valor histórico ou por ser muito raro, mas por ser um livro de família, cheio memórias afetivas, dedicatórias, pequenas anotações e muita história. Quando chegou até mim, o livrinho de música de aproximadamente 90 anos, estava em péssimo estado. Não tinha mais lombada, as folhas estavam quebradiças, oxidadas, a capa já estava solta e se ficasse sem nenhuma intervenção certamente não iria durar muito. A sorte é que o proprietário tinha a noção do valor histórico do livro e queria mesmo preservar as memórias de infância. Segundo ele, a família costumava se reunir em datas especiais para cantar as músicas daquele livrinho. Com isso em mente, venci meus medos e comecei!

Mãos à Obra

Desmanchei o livro facilmente por motivos óbvios: ele já estava praticamente desmontado. Usei carboximetilcelulose, para “soltar” o que restou da lombada e posteriormente desmanchar a costura. A linha original estava podre e meu receio em relação à integridade da lombada se confirmou: muito papel faltando. Antes de recuperar as páginas, precisei lavar as folhas para poder recuperar a flexibilidade das mesmas e reduzir um pouco o amarelado. Essa etapa, a da lavagem, é a mais demorada. Cada folha fica em média 4 horas de molho em solução para depois secar e ser planificada novamente.

Comecei a recuperação das folhas, reintegrando as que estavam partidas ao meio, enxertando pedaços faltantes, fazendo velatura onde havia mais problemas. Toda essa etapa levou aproximadamente uma semana, pois também envolve o tempo de secagem das folhas. Por fim, comecei a reencadernação: não pude realizar lavagem das folhas de guarda, pois estavam com dedicatórias escritas a caneta. Por sorte elas estavam inteiras e pude aproveitá-las sem problemas. A nova lombada foi construída pensando nos tons originais da capa, ou seja, tons de marrom e vermelho.

Processo de restauro das páginas.
Processo de restauração das páginas

O Resultado

Quando um livro é restaurado não significa que ele vai ficar com aspecto de novo, recém-saído da prensa. Esse é um engano bastante frequente e atrapalha muito a vida dos restauradores. Quando eu restauro um livro, procuro sempre deixar à mostra todas as intervenções feitas. Se houve enxerto de papel, eu não faço o tingimento, ele vai ser provavelmente mais claro que o tom das folhas do livro. O resultado obtido no restauro desse livro foi bastante satisfatório. Foram necessárias muitas horas de trabalho e consegui trazer o livrinho de volta “das trevas”!

Nesse post do Instagram coloquei mais fotos do resultado.

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