A cada ano, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) nos presenteia com uma seleção cuidadosamente escolhida de obras literárias que devem fazer parte do repertório dos estudantes que almejam ingressar nesta prestigiosa instituição. Para os apaixonados por literatura e para aqueles que desejam se aventurar pelo mundo dos livros, essa lista é uma oportunidade imperdível. Vamos explorar juntos as obras selecionadas para 2024 e descobrir as maravilhas que elas têm a oferecer.
1. “Várias Histórias” – Machado de Assis
Impossível não começar nossa jornada literária com ele! Não escondo de ninguém minha admiração por Machado de Assis, inclusive já fiz até um texto aqui sobre meu livro favorito de todos os tempos. “Varias Histórias” foi publicado pela primeira vez em 1896. Este livro reúne contos que exploram a natureza humana, muitas vezes revelando o lado mais sombrio e irônico da sociedade. As histórias abordam temas como o amor, a vaidade, a hipocrisia e a decadência social. Muito Machadiano! Cada conto é uma peça de arte literária que nos convida a refletir sobre as nuances da existência humana, mantendo-se relevante e cativante ao longo dos anos, demonstrando por que Machado de Assis é considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira.
2. “Cem Anos de Solidão” – Gabriel García Márquez
Partindo para a literatura latino-americana, “Cem Anos de Solidão” de Gabriel García Márquez é uma viagem através do realismo mágico. A história da família Buendía e de sua cidade, Macondo, é uma tapeçaria de eventos surreais e personagens inesquecíveis. Este romance é uma celebração da imaginação e da riqueza das culturas latino-americanas, uma leitura que deixará marcas indeléveis em sua mente.
3. “Um útero é do tamanho de um punho” – Angélicca Freitas
“Um útero é do tamanho de um punho” de Angélica Freitas é uma obra de poesia. Não sou grande fã do gênero, e como poesia é algo que deve ser sentido por cada um, não posso opinar muito. Nesse livro, Freitas aborda questões de gênero, corpo e identidade de forma visceral e provocativa. Suas palavras, muitas vezes cruas e desafiadoras, convidam o leitor a explorar as complexidades da feminilidade e a desafiar normas sociais.
4. “A Terra dos Mil Povos” – Kaká Verá
É uma obra que mergulha nas tradições e saberes indígenas do Brasil, oferecendo uma perspectiva única sobre a relação entre a natureza e a espiritualidade. No entanto, alguns leitores encontram desafios na estrutura e na densidade do livro, que, em certos momentos, pode parecer um tanto fragmentado e difícil de seguir. Além disso, a abordagem espiritual e filosófica de Werá pode não ressoar com todos os leitores, tornando-o mais adequado para um público específico interessado em espiritualidade indígena e ecologia profunda.
5. ” Água Funda” – Ruth Guimarães
Água Funda” de Ruth Guimarães, publicado em 1946, é uma obra literária que aborda questões sobre a identidade e a memória afro-brasileira. Embora a narrativa ofereça uma perspectiva rica e genuína da cultura e das tradições afrodescendentes, alguns leitores podem achar a prosa densa e um tanto difícil de acompanhar, já que a autora utiliza uma linguagem rica em regionalismos e elementos folclóricos. Além disso, o livro pode ser visto como um tanto datado em sua abordagem, refletindo a época em que foi escrito e a visão predominante da autora sobre a identidade negra no Brasil. No entanto, “Água Funda” é uma importante contribuição à literatura brasileira por revisitar vozes e experiências negligenciadas, oferecendo uma oportunidade valiosa para reflexão sobre as complexidades da identidade e da herança afro-brasileira.
6. “A Falência” – Júlia Lopes de Almeida
Esse romance se destaca por explorar as dinâmicas de gênero e poder na sociedade carioca do final do século XIX. A autora aborda as questões das mulheres em uma época marcada por expectativas rígidas. Publicado originalmente em 1901, A Falência mostra a formação de uma elite urbana enriquecida pela exportação de café, expondo as falhas e hipocrisias de uma jovem República que, apesar de fundada sobre ideais positivistas de liberdade e igualdade, já nasceu com desigualdades sociais seculares.
7. “Lisístrata” – Aristófanes
“Lisístrata,” uma comédia clássica escrita por Aristófanes na Grécia Antiga, é uma obra que destila sátira e humor para abordar questões políticas e sociais da época. A trama gira em torno da personagem-título, Lisístrata, que lidera um grupo de mulheres atenienses em um plano para pôr fim à Guerra do Peloponeso, convencendo-as a se absterem do sexo até que os homens ponham fim ao conflito. Esta comédia não apenas oferece momentos hilariantes e situações cômicas, mas também revisita questões profundas sobre a futilidade da guerra e o poder da ação coletiva. Embora escrita há mais de dois mil anos, “Lisístrata” permanece relevante por sua crítica à guerra e sua exploração das relações de gênero, destacando como o humor pode ser uma ferramenta eficaz para discutir temas sérios.
8. “Coral e Outros Poemas” de Sophia de Mello Breyner Andresen
“Coral e Outros Poemas” de Sophia de Mello Breyner Andresen é uma obra de destaque na poesia lusófona, cativa os leitores com sua linguagem lírica e sua profunda conexão com a natureza, o mar e a história de Portugal.
9. “Caderno de memórias coloniais” – Isabela Figueiredo
Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo, de 2009, é uma obra literária profunda e tocante que aborda as complexas dinâmicas do colonialismo português e suas consequências no contexto pós-colonial. O livro é uma mistura hábil de memórias pessoais da autora, que cresceu em Moçambique, e reflexões sobre a história colonial de Portugal. Figueiredo oferece uma perspectiva corajosa e honesta sobre as interações raciais e culturais que marcaram sua infância e adolescência, enquanto também questiona as narrativas oficiais da história portuguesa. A escrita envolvente de Isabela Figueiredo e sua capacidade de abordar questões complexas de identidade, privilégio e pertencimento tornam “Caderno de Memórias Coloniais” uma leitura essencial para aqueles que desejam compreender as ramificações duradouras do colonialismo na psique coletiva de Portugal e nas vidas das pessoas que foram afetadas por ele.
10. “Ponciá Vicêncio” – Conceição Evaristo
Livro da renomada escritora brasileira Conceição Evaristo publicado em 2003, é um romance que mergulha profundamente na jornada de uma mulher negra em busca de identidade e autodeterminação. A narrativa cativante acompanha a vida de Ponciá, desde sua infância humilde em uma fazenda até suas lutas e triunfos na cidade. Evaristo tece habilmente temas de racismo, gênero e desigualdade ao longo da história, oferecendo uma perspectiva única sobre a experiência da mulher negra no Brasil. A voz poderosa e autêntica da autora ressoa em cada página, dando voz à história frequentemente negligenciada das mulheres afro-brasileiras. “Ponciá Vicêncio” é um livro que não apenas entretém, mas também desafia os leitores a refletirem sobre as complexas questões de identidade, raça e pertencimento em uma sociedade marcada pela desigualdade e pelo preconceito.
11. “Deixe o Quarto Como Está” – Amilcar Bettega
Publicado em 2002, “Deixe o quarto como está”, demonstra toda a habilidade do autor em envolver o leitor como cúmplice na construção de estranhos e perturbadores universos. A lógica cotidiana nas histórias cede espaço para estranhos eventos e relações que impõem suas próprias regras e configuram um novo mundo. Alguns contos, como “Autorretrato”, “Aprendizado” e “Para salvar Beth”, permitem uma leitura realista. Outros, como “Hereditário”, “O crocodilo”, “O rosto” e “O encontro”, mergulham sem hesitação no terreno do fantástico, oferecendo narrativas inquietantes com nuances kafkianas, narradas com o humor sutil de um cineasta surrealista. Além disso, há relatos que se encontram a meio caminho entre o real e a fantasia, como “Exílio”, “Correria” e “Espera”, desafiando o leitor a questionar a sanidade (ou franqueza) do narrador, a fim de decidir sobre a credibilidade da história.
12. “Construção” (álbum) – Chico Buarque
“Construção,” o icônico álbum de Chico Buarque, é uma obra da música brasileira que não apenas resistiu ao teste do tempo, mas também moldou o cenário musical e cultural do Brasil. Lançado em 1971, no meio do regime militar, suas letras são como pequenos contos, narrando histórias de trabalhadores, amores perdidos e as tensões sociais da época. A música-título, “Construção”, é especialmente notável pela sua inovação musical e pela forma como a letra é construída em uma estrutura progressiva e única.
As leituras obrigatórias da UFRGS para 2024 são uma oportunidade única para expandir seus horizontes literários e explorar o rico patrimônio literário brasileiro e latino-americano. Cada livro traz consigo uma experiência única e valiosa, oferecendo percepções sobre a cultura, a história e a psicologia humanas. Portanto, mergulhe de cabeça nessas obras e aproveite ao máximo essa jornada literária. Elas não apenas o prepararão para o vestibular, mas também enriquecerão sua vida de maneiras que você nem pode imaginar.